ACHUGAR,
Hugo. Planetas sem boca: escritos
efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
p.9-26.
No primeiro capítulo do
livro de Achugar (2006), cujo título é “Espaços incertos, efêmeros – Reflexões
de um planeta sem boca”, o autor começa com uma epígrafe de Eneida Maria de
Souza falando sobre a condição fronteiriça do intelectual, o que confirma a
indeterminação dos saberes, considerando a implicação da permuta e viagens por
espaços incertos e, muitas vezes, efêmeros.
Achugar no discurso do
texto faz uma afirmação interessante que leva-nos, estudantes de graduação e
pós-graduação a pensar sobre o ensino, dizendo que é impossível haver leitura,
ensino verdadeiro, ou seja, a permutação dos espaços e tempos percebe-se a
mudança no ensino. Outrora o que era antes, hoje, porém, não é ou foi
modificado.
Um ponto relevante no
texto está na não aceitação do padrão de arte, cultura e literatura. Os modelos
eurocêntricos devem ser questionados, aceitos e respeitados. A valorização do
local. É nesse ponto que Hugo Achugar deseja que façamos debates e aprimorarmos
o nosso caráter consciente nessas discussões num padrão intelectual.
A afirmação do local e
o confronto com o padrão que se coloca como verdadeiro está no fato dos
territórios serem incertos, territórios estes culturais, intelectual e
artístico.
Achugar nos mostra e
faz uma crítica sobre as teorias elencadas nos últimos tempos, muitas delas
realizadas somente em função do marketing publicitário, ou seja, as mídias
impõe e os críticos, pesquisadores e estudiosos desejam entender o movimento
devido a tal aceitação social imposta pelas mídias. Como por exemplo,
consumismo, tradição, família, propriedade, conservadorismo.
No texto, o autor
refere-se a dois movimentos que são considerados importantes para entendermos o
processo de movimentação social na América Latina e o modo como a sociedade
reage e se comporta quando o poder comunicativo da massa deseja impor a um povo
que aja de tal forma visando objetivos amplamente ideológicos.
O primeiro movimento
refere-se à saúde pública e ao acontecimento político e midiático. Na saúde
cita o caso da poliomielite, onde no Uruguai milhares de pessoas morreram por
causa da doença deixando a população reclusa em suas casas e vendo sempre no
“Outro” a possibilidade de culpa e de transmissão da doença e consequentemente
a morte. Na política temos as indústrias. Uma sociedade estagnada no crescimento
industrial e, no entanto a burguesia mostrando um país em pleno
desenvolvimento.
Um ponto chave do autor
é o uso da metáfora. Ele usa a poliomielite como figura de linguagem para
mostrar a exclusão dos povos latino-americanos na visão do “outro”.
O segundo movimento,
mostrado por Achugar, é o quadro (imagem) de Juan Boris Gurewitsch. Mostrando
uma sociedade industrial (Uruguai), em pleno crescimento, moderna, produtiva e
altamente rica. Aqui, novamente ele usa a metáfora para mostrar, na realidade,
um povo opressivo, contaminado, ou seja, pobre. A temática do quadro tem um
valor de produção para a realidade de primeiro mundo, no entanto, a realidade
local não é nada igual ao quadro, é um país sem indústrias, sem
desenvolvimento.
O que realmente Achugar
deseja mostrar através das duas metáforas é a produção de valor a partir da
periferia, um lugar de enunciação, concreto, verdadeiro, teórico, desejado.
E ao final do texto,
percebe-se a necessidade, nos “planetas sem boca” a construção da intelectualidade
a partir dos pensadores da periferia/imagem na América Latina.
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