O texto a seguir foi escrito por mim, Fábio Correia de Rezende, no processo seletivo para o doutorado em educação no Programa de Pós-Graduação em Educação - UNISUL
Meu objetivo é compartilhá-lo e registrar mais um dos escritos que realizo. Ainda, muita coisa para aprender.
Leia os excertos a seguir:
Excerto 1
[...] “A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos” [...]
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007 (Coleção primeiros passos; 20). 49ª reimp. da 1 ed. 1981.
Excerto 2
[...] “O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo”. [...]
[...] “Críticos seremos, verdadeiros, se vivermos a plenitude da práxis. Isto é, se nossa ação involucra uma crítica reflexão que, organizando cada vez o pensar, nos leva a superar um conhecimento estritamente ingênuo da realidade. Este precisa alcançar um nível superior, com que os homens cheguem à razão da realidade. Mas isto exige um pensar constante, que não pode ser negado às massas populares, se o objetivo visado é a libertação”. [...]
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido 46ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
Excerto 3
[...] “O processo educativo é passagem da desigualdade à igualdade. Portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto como democrático sob a condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade no ponto de chegada. Consequentemente, aqui também vale o aforismo: democracia é uma conquista; não algo dado”. [...]
SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados, 2008.
Excerto 4
[...] “A tarefa educativa fiel às circunstâncias mutáveis do contexto é situada. O homem, sendo um conjunto de relações sociais, torna-se sujeito-objeto da educação quando evidencia esse conjunto no exercício da prática social. A tarefa educativa voltada para a transformação não pode se abstrair dessas relações, nas quais existe, e nem pode renunciar às perspectivas da transformação presentes na realidade, como também não pode deixar de se solidarizar com os que lutam pela transformação das estruturas sociais”. [...]
CURY, C. R. J. Educação e contradição. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
Considerando os excertos acima, elabore um texto crítico reflexivo quecontemple as seguintes orientações:
Questão 01 (6 pontos):
Relacione os excertos acima, considerando os conceitos que seus autores aludem, analise, interprete e argumente, produzindo um texto único com os itens a seguir:
a) a Educação brasileira nos dias atuais;
b) a importância da Educação para a democracia;
c) a Educação como instrumento de justiça social.
Questão 02 (04 pontos): articule a sua temática de pesquisa com as contribuições que você pretende dar a este Programa de Pós-Graduação (PPGE).
Pensar na/em Educação, destaca-se com E maiúsculo, é importante para refletir, analisar como Ela pode contribuir no processo de evolução sistemática, cultural, econômica, intelectual e informacional em favor de todos e para todos. Como aponta Carlos Cury, a educação é um direito na sociedade, as pessoas tem direito sociais e individuais, o acesso à educação é considerado um, e imprescindível para o desenvolvimento do Homem como ser social, pertencente a uma cultura em contexto glocal. Pois a partir do desenvolvimento, seja social, profissional, pessoal, o ser humano precisa/necessita do conhecimento que é adquirido, (des)construído por meio do processo educacional formal. Dessa forma, Carlos Cury nos chama para refletirmos sobre a educação como um direito atrelado à democracia, ou seja, a educação torna o homem cidadão, membro da sociedade.
A educação como um resultado e sujeito concreto da democracia deve estar constantemente alinhando-se e proporcionando condições de igualdades para todos os cidadãos brasileiros. Porém, a partir do contexto histórico da educação brasileira, percebe-se que sempre houve e ainda há lacunas que causam desigualdades de acesso ao conhecimento formal, seja na educação básica ou superior. Paulo Freire, no livro Educação Bancária aborda sobre as lacunas existente na educação brasileira, quando discute sobre o pensamento ideológico do colonizador. Nesse contexto, Paulo Freire dialoga com Canclini e Home Bahbha, quando se reflete sobre a posição do colonizado e do colonizador, a imposição de ideias, conhecimentos, costumes, a cultura, especialmente a língua. Paulo Freire defende que a educação deve ser vista como democrática, por isso, cabe aos educadores, tentar mitigar algumas das lacunas existentes sobre as desigualdades de acesso à educação. Paulo Freire afirma, a educação deve ser problematizadora, libertadora, dialógica entre professor e aluno, o que ele chama de Educação Humana, onde a sociedade também deve estar sempre em policiamento ideológico.
Na educação brasileira sempre existiu problemas vinculados ao acesso e o direto a democracia. Em relação aos dias atuais, devido a Covid-19, os problemas no cenário educacional mundial, aqui destaca-se, no cenário brasileiro, foram escancarados e perceptíveis de tal maneira, que fez professores, alunos e famílias enxergarem as mazelas e as desigualdades sociais, frente o acesso à educação. Cury afirma, é um dos direitos para o exercício da democracia, porém, negado em muitos contextos. Por exemplo, quase todas as escolas do Brasil, na tentativa de continuar o processo educacional, talvez nas maiorias delas, sendo o tradicional, diretores, coordenadores, professores começaram a ministrar aulas de modo remoto, online e/ou híbrido. Só então, alguns dos problemas relacionados à educação, como a falta de internet de qualidade, a ausência de equipamentos tecnológicos para ministrar aulas tornaram-se visíveis. Alunos e famílias sem condições de acesso a equipamentos tecnológicos, à internet, sem acesso aos recursos básicos de saúde, ainda temos os professores sem formação técnica/profissional para desenvolver práticas pedagógicas por meio das tecnologias digitais. Porém, apesar do cenário caótico nesse momento pandêmico, na educação brasileira, há exemplos memoráveis, onde professores, por meio da pedagogia crítica social dos conteúdos, conseguem atuar de forma prática e autentica, na tentativa da não reprodução do aparelho ideológico do estado, onde Demerval Saviani e Paulo Freire chama de educação dialógica que faz o professor refletir sobre a sua prática pedagógica, entende-se que a partir da reflexão, postura ativas são tomadas e postas em práticas. Nesse processo, John Dewey destaca a participação ativa dos alunos, provocada pelo professor ativo, para que seja concretizada ou não, a educação democrática.
Assim, os autores citados, entre outros, por exemplo, Emília Ferreiro que trata sobre o construtivismo na alfabetização. Phillipe Perrenoud que discute as múltiplas competências e o papel social da gestão escolar democrática. Maria Montessori aborda a prática do aluno, frente ao planejamento do professor. Outros autores, como Seymour Papert, Armando Valente, Piaget, Carlos Libâneo discorrem sobre a importância do construtivismo e do construcionismo para as práticas pedagógicas da educação. O que esses autores tem em comum? Todas as pesquisas deles demonstram a importância da educação para a democracia. Pode-se analisar que educação e democracia são termos distintos, porém estão interligados. Como defendido por Carlos Cury que a educação é um dos direitos para a democracia. Frente ao processo democrático, problemas (in)visíveis na educação foram emergidos nesse momento de pandemia. Assim, para que a democracia se torne concreta é importante que os governos discutam e planejem políticas públicas voltadas para a mitigação das dificuldades de acesso a equipamentos tecnológicos, internet, infraestrutura de qualidade, professores capacitados entre outros contextos problemáticos. Entende-se que há problemas diversos na educação, porém não é papel do professor ficar alienado, estático. Como Paulo Freire chama a atenção, a educação é transformadora e libertadora. Portanto, pensar a importância da educação para todas as classes sociais é pensar diretamente na concretização da democracia. Consequentemente "democracia é uma conquista; não algo dado" (SAVIANI, 2008).
Saviani afirma que a democracia é uma conquista, então a classe de professores e a educação generalizada pode obter a democracia? Pode-se afirmar que sim, porém o processo de conquista é árduo. É necessários lutas, pesquisas, estudos, mudanças de atitudes, de comportamentos. Deve-se abandonar a educação bancária e passar para a educação transformadora. Nesse sentido, a educação passa a ser uma arma de luta, como um instrumento de justiça social. Por exemplo, na Universidade Federal da Bahia, existe um grupo chamado Negros e Negras na Computação (NCC) que estudam, pesquisam e publicam sobre as vidas de negros e negras na área da computação, refletem sobre os preconceitos e dificuldades vivenciadas como profissionais distintos dessa área, por ser a maioria dos profissionais branco, elitizada e detentora das normas organizadas pelo colonizador, ou seja, perdura o pensamento ideológico do colonizador. Nesse contexto, pode-se compreender a educação como um instrumento de luta em favor da justiça social. Os membros do grupo NCC lutam, refletem e estão mudando as práticas e os contextos em que estão inseridos, mas a mudança não é em favor pessoal, e sim geral. É uma luta por oportunidades e igualdades que as chances sejam as mesmas, na educação, para qualquer pessoa e classe.
Partindo da discussão acima sobre a educação brasileira nos dias atuais, a importância da educação para a democracia e instrumento de justiça social, acredita-se que há uma relação articulada com a proposta e temática de pesquisa construída no projeto e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisul. No projeto, o objeto de estudo é o ensino híbrido nas escolas públicas brasileiras. O local da pesquisa é na cidade de Parauapebas PA, os sujeitos são os professores de língua portuguesa e matemáticas. Justifica-se esses sujeitos para o escopo da pesquisa, por ser as disciplinas utilizadas para a avaliação escolar externa, como a Prova Brasil e a ANA. Também, pretende-se compreender o processo de construção e percepção das práticas pedagógicas desses professores, frente ao ensino híbrido. O problema de pesquisa está relacionado ao processo de formação continuada de professores, ou seja, compreender como foi e ainda é, para os professores planejarem e desenvolverem suas práticas pedagógicas frente ao ensino híbrido com o uso de tecnologias na educação.
Mediante o contexto pandêmico, os problemas existente na educação, também em Parauapebas, há professores sem competência e formação técnica para desenvolver aulas híbridas. Há escolas sem acesso a internet de qualidade, não há equipamentos como computadores para todos os alunos. Existem famílias que não tem condições de adquirir um aparelho celular para os filhos acompanhar o processo escolar na modalidade remota/híbrida. Mediante essa problematização existente em Parauapebas acredita-se que remota/híbrida. Mediante, essa problematização existente em Parauapebas, acredita se que a pesquisa é relevante no contexto social, porque poderá proporcionar dados e informações para a secretaria municipal de educação, para a prefeitura, para a câmara de vereadores elaborar e desenvolver políticas públicas para mitigar alguns problemas existentes na educação pública dessa cidade.
Além disso, também compreende-se que a pesquisa poderá contribuir para o Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisul e para a comunidade científica com publicação da tese e artigos que poderão ser utilizados, estudados e analisados por outros programas de educação ou outras áreas, ampliando assim o quantitativo de pesquisas e mostrando possíveis gaps de pesquisa para futuros professores e alunos pesquisadores. Além disso, a tese poderá contribuir para a implantação do ensino de computação na educação básica, é uma discussão ativa dentro da Sociedade Brasileira de Computação, que recentemente, o Conselho Nacional de Educação enviou para homologação no congresso, as normas sobre o ensino de computação na educação básica, da qual será anexada ao BNCC.
Fábio Correia de Rezende
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