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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS: de que forma a internet e os recursos tecnológicos podem aumentar o poder de comunicação social do aluno?


         O ensino de Língua Portuguesa - LP - deve ser um processo dialético aberto para o mundo e voltado sempre para a realidade social do aluno. Nesse sentido, Mendonça e Bunzen (apud KLEIMAN, 2005) afirmaram que “quanto mais à escola se aproxima das práticas sociais, mais o aluno poderá trazer conhecimentos relevantes das práticas que já conhece, e mais fáceis serão as adequações, adaptações e transferências que ele virá a fazer em outras situações da vida real”.
Para possibilitar essa abertura para o mundo, o ensino da Língua Pátria deve considerar o contexto sociocultural envolvendo as comunidades onde o aluno interage e depois estimular os usos frequentes da leitura e da escrita como um processo preocupado com o mundo real atendendo, assim, às necessidades das pessoas para um mundo letrado, aberto à contemporaneidade em que se vive.
           A importância das metodologias adequadas ao ensino de LP deve estabelecer relações diversas entre o que é estudado e o que é ensinado, por isso, precisamos pensar o ato de ensinar (GIL; ABRAHÃO, 2008).
O professor nesse contexto precisa estar preparado para analisar constantemente a prática de lecionar como um ato técnico, mas também ético e político. Desse modo, sua preocupação sobre o currículo selecionado somente vai atingir significativamente as necessidades de letramento do ser social e global se ele conseguir efetivar a discussão aberta para o mundo, consequentemente, interrelacionando alunos, professores e a sociedade com suas múltiplas formas de expressão, entre elas, a internet, que juntos devem ser canalizados para fazer o currículo escolar como um instrumento existencial da pessoa e não apenas um formalismo da sala de aula da escola.
     Andrade (2007. p.128) afirmou, nesse sentido, que “a formação docente constitui-se essencialmente na transmissão de conhecimentos científicos, e é preciso que tal transmissão, para que seja efetiva, não seja uma via de mão única, mas seja permeada pela voz docente, que dá a medida da recepção dos conhecimentos”.
Idealmente, o professor não pode somente ser uma caixa fechada contendo conhecimentos de livros e de teorias que ele conhece no contato com a Universidade, e que não passam adiante para o mundo do jovem e da criança. Por isso, o professor também precisa ter conhecimentos práticos, uma boa formação no sentido de saber fazer estratégias; ter habilidades.
Sem dúvida, o saber fazer vai estar acompanhado com a prática relacionada a uma teoria adquirida através da relação entre letramento e domínio da escrita acadêmica. Mas na realidade escolar, as habilidades tem aparecido menos; enquanto as capacidades teóricas do professor têm aumentado substancialmente com o ingresso na Universidade e com a realização de cursos de atualização.
Percebemos facilmente as dificuldades que os professores possuem em lidar com a língua escrita na sua diversidade social, e consequentemente com os objetos da cultura erudita e popular. Essa dificuldade é prejudicial para o aluno, pois além de ser uma forma desagradável de conhecer a língua, não confere ao aluno nem capacidade nem habilidade para coexistir e conviver com a realidade como ela é: heterogênea, complexa, onde a linguagem cotidiana absorve níveis variados de expressão.
Segundo Wilson (2008) “para muitos estudantes de Letras, dominar a variante culta da língua é um dos primeiros desafios a serem superados”. Com base na fala desse autor nota-se a acomodação dos docentes de LP em focar a utilização “pura, ou correta” da linguagem, buscando ter capacidade, erudição, assim reforçando o uso da língua formal como dominante no dia a dia deixando de fora outras formas da língua considerada como “errada”. 
          As habilidades do como fazer a prática docente da Língua Portuguesa exige o intercâmbio com os conhecimentos e o uso de tecnologias da informação mais atraentes, efetivas, e reais do cotidiano. Como bem observou Almeida (2006 p. 49), o raciocínio, o cálculo, a escrita, o arquivo, o registro, a linguagem rigorosa da ciência, a criatividade, o raciocínio espacial, são todas habilidades e técnicas colocadas em questão e que nos remetem diretamente à interdisciplinaridade.
Mas como se relaciona a interdisciplinaridade com a informática?
         Silva (2011), por exemplo, fornece-nos uma explicação para o questionamento acima. Fala sobre a emergência da cibercultura constituída por novas práticas comunicacionais, como por exemplo: e-mails, chats, listas, weblogs, jornalismo online, webcams etc. Assim entende-se a grande necessidade do professor de LP se fortalecer na prática pedagógica através das TIC’s e da interdisciplinaridade.
          Na relação da linguagem com a tecnologia da informação segundo Amora (2011) “é necessário que o receptor tenha conhecimento da língua para decifrar as mensagens que são enviadas pelos meios tecnológicos”. Assim o professor não pode apenas oferecer aos alunos o conhecimento para decifrar os códigos da língua portuguesa, mas oportunizar condições de que o mesmo interaja de forma significativa com esses tipos de textos variáveis.
           A leitura na Internet precisa ser direcionada pelo professor de LP aos alunos de forma ampla cujo objetivo é melhorar o processo de aquisição de conhecimento no mundo letrado do virtual ao real e do real ao virtual onde o acesso à informação e a produção do saber transformam-se, afinal, em competências capazes de possibilitar práticas de leituras contínuas entendidas como atividades estruturantes do conhecimento e da cultura.
De acordo com Silva (2008 p.14) “espera-se que todos os indivíduos sejam devidamente preparados para a compreensão e o manejo de todas as linguagens que servem para dinamizar ou fazer circular a cultura”.
Cada vez mais, tem-se observado no contexto escolar o uso frequente da internet e informática sob uma abordagem educacional como recurso pedagógico importante. Mas atenta-se para o fato de que a tecnologia não resolveu todos os problemas educacionais especialmente os voltados para a capacidade de leitura e escrita; e de alguma forma trouxe ao debate novas questões de (re)ver a relevância do letramento viciado pelo tecnicismo.
“Do ponto de vista textual, o tecnicismo tem um interesse especial no que diz respeito ao modo de se estruturar um texto e de nele navegar ou, em termos mais técnicos, em relação a sua coerência e coesão” (Freire, 2008 apud Koch, 1998).
Então, percebe-se no uso constante da internet influências nas formas de leitura e produção textual voltada para a rede mundial como, por exemplo: chats, messenger, e-mails, mais atualmente What’s up, que agora devem ser vistos não apenas como peças de comunicação mas como símbolos de poder de comunicação e de manifestação da presença do ser humano no mundo.
            Por outro lado, o professor precisa se libertar do tecnicismo e buscar ajuda no extremo da Humanismo, e assim alcançar uma terceira via, por exemplo, construcionista onde o professor passa a ser um mediador e incentivador da língua portuguesa como porta de entrada para a cidadania.
Ou seja, não se pode negar a importância do ensino técnica da língua, porém, essa técnica deve estar a serviço do poder de comunicação. Isso precisa ser enfatizado pelo professor ao aluno, ou seja, quem sabe mais a língua portuguesa, tem mais poder de competição, mais poder de compreensão, mais poder de adaptação ao mundo.
A inserção da web na efetivação de parte do currículo está sendo vista de modo a contemplar os demais conteúdos ministrados. Nessa direção, podem os professores e alunos on line comportar-se e agir de forma construtiva. A escola através do processo ensino-aprendizagem dentro da disciplina de LP contribui nessa perspectiva de trabalho para desenvolver leitores e escritores ativos e inseridos no mundo onde as palavras se fazem presente o tempo todo.
Nesse ponto, Almeida (2008) faz-nos uma pergunta: “como as pessoas leem na web?” A resposta dada pelo autor é que as pessoas simplesmente não leem por razões de estarem em frente a um mundo de informações, e estão desconfortáveis por estarem em frente a uma tela.
            Nesse caso, a realidade mostra a ação mecânica do professor tecnicista e ortodoxo não traz um avanço existencialista para o jovem no século XXI. Segundo Galli (2010 p. 148) a internet tem se tornado um dos meios de difusão de mensagens mais acessíveis e, desse modo, sua linguagem também se propagou e se tornou globalizada. Por isso, considera-se hoje essencial o uso da internet no campo educacional especialmente no ensino da LP, pois o uso da língua de forma dinâmica se faz presente em todas as esferas sociais.
Ainda segundo Marcushi (2010) “todos os gêneros textuais eletrônicos provocam polêmicas quanto à natureza e proporção de seu impacto na linguagem e na vida social”. Percebe-se mediante a exposição desse autor a grande necessidade do professor deixar a ação mecânica ou tecnicista da língua e da máquina, e abrir-se para a cultura digital e tecnológica, assim, abandonar técnicas gramaticais e conceitos fechados para o mundo, pois os ambientes virtuais que se fazem presente na vida desses profissionais e dos discentes são extremamente versáteis, comunicativos, abertos.
            Falta em tudo isso uma discussão existencialista profunda sobre a prática do professor, pois ele geralmente está “ausente” do grande mundo. Segundo Pelandré (2008 p. 244) “professores dizem pelos seus discursos entender as propostas para o ensino de língua portuguesa, baseado na concepção sociocultural e enunciativa da linguagem”.   
Vários autores consideram, nessa perspectiva existencialista, que é possível ligar o real ao ideal e vice-versa no ensino de LP relacionado ao uso da rede mundial, observando as seguintes questões estratégicas:

Transformação Cultural. É preciso estabelecer mudanças de atitudes relacionadas ao uso das tecnologias da comunicação e da informação voltadas para o processo ensino-aprendizagem. Os alunos podem e devem adquirir uma consciência de como utilizar todos os recursos tecnológicos voltados para a aquisição da produção de leitura e escrita assim fazendo parte do mundo letrado para contribuir de forma significativa na expansão da cultura. O trabalho intelectual passa a adquirir outros contornos, e a escola passa a ser obrigada a assumir outro papel. Já não pode ser repassadora física de informações, por uma razão muito simples: essas informações já estão disponíveis nos meios eletrônicos de comunicação e são passados de forma até mais eficiente. Cabe à escola, nesse novo contexto, trabalhar outros elementos, “sobretudo a ética de acesso a essas informações, o seu significado político, a sua importância existencialista para o progresso da humanidade” (ver, por exemplo, PRETO, 2008, p.142).

Conhecimento voltado para “saber” utilizar, ou seja, desenvolver habilidades. O professor precisa estar constantemente lendo, refletindo, analisando sobre sua prática pedagógica, buscando meios, recursos para adaptar-se as mudanças sobre as novas formas de ensino envolvidas na relação do ensino com a internet, por exemplo, vídeos aulas, chats, sites, jogos, redes sociais dentre outras. De acordo com Freire (2011, p. 52) “o conhecimento exige reflexão (tempo e maturação) e seleção (critério, crítica)”. Com isso, percebe-se a necessidade real do professor em “saber fazer” a sua prática pedagógica voltada para o papel social ideal da escola.

Baseado nos autores citados, percebe-se que no debate da formação do professor aparecem os seguintes pontos críticos:

Necessidade. O professor precisa saber interpretar símbolos, significados, até mesmo as metodologias para compreender e entender o significado. “O sentindo de um texto não existe a priori, mas é construído na interação sujeitos-texto e para a produção de sentido, necessário se faz levar em conta o contexto” (KOCH, 2011, p. 57). Significa considerar então o contexto no processo de leitura e a produção de sentido como algo muito importante para que o professor de LP entenda e interprete o seu fazer e atinja seus objetivos pautados em uma educação voltada para a inserção dos alunos no mundo letrado sendo ele virtual e real.

Possibilidades. Pensar nas possibilidades de melhoria significa a esperança de mudanças que são possíveis através de debates, estudos, pesquisas para compreensão dos diferentes modos de utilização da linguagem. Por exemplo, Amaral (2008, p. 45) afirma “é necessário refletir sobre como “isso” está ocorrendo; quais os critérios que orientam a aquisição dessas novas linguagens, além de verificar a construção de novas redes semânticas entre conteúdos e significados disponibilizados”.

Realidade.  Autores como Passarelli (2008, p.221) afirmam que “é preciso conceber a linguagem não só como forma de interação, mas como processo interacional entre os sujeitos que utilizam a língua em suas variedades para se comunicar, para exteriorizar pensamentos, informações, e, para realizar ações com o outro, sobre o outro”. Portanto pensar a realidade, analisá-la e interpretá-la são importantes pela necessidade de se entender como ocorrem as diversas formas de interação entre os usuários da LP e as ações que um exerce sobre outro e assim, depois, pensarmos como a rede mundial de internet tem influenciada a exteriorização dos pensamentos em seus diversos tipos.

Idealidade. Qual a forma ideal para o professor de LP ministrar as aulas e contribuir aos alunos condições básicas de aproveitamento no campo da leitura e escrita? Como deve ser o comportamento e as tomadas de atitudes desses frente ao grande número de informações, de textos de gêneros diversos em situações reais na vida e no campo virtual pelo acesso a rede mundial de computadores?

Alternatividade. Acredita-se que há inúmeras alternativas para buscar melhorias no ensino de LP. Por exemplo: Formação Adequada, Identidade Profissional, Relação com as TIC’s, Comunicação e Socialização, Autoridade em Sala de Aula, Visão Pedagógica, etc. No que se refere à Formação percebe-se a grande necessidade do professor ingressante ser capaz de articular conhecimentos de interface com a educação, fazer ações de inclusão e de valorização da diversidade e singularidade, elaborar planejamento orientado a processos de construção do conhecimento, metodologias e recursos pertinentes aos objetivos do trabalho pedagógico e aplicar procedimentos avaliativos que reorientem a prática educacional. Nesse conjunto a construção da identidade profissional contribuirá para a versatilidade e capacidade da realização de um trabalho competente.
            Concluindo, queremos dizer que a relação com as TIC’s é um fator essencial no ensino de LP voltada para as redes sociais, e uso dos recursos tecnológicos a serviço de uma ampliação da comunicação, socialização e educação. Tudo isso trabalhado com a “Autoridade em Sala de Aula” pode avançar a cada etapa através de competências acadêmicas na construção do conhecimento oferecendo e inserindo o aluno dentro da sociedade tomada pela informação e o mesmo fazendo emprego constante e ativo das diversas formas de linguagens, onde capacidade e habilidade precisam estar integradas.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, Rubens Queiroz de. O leitor-navegador (I).  A leitura nos oceanos da internet. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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AMORA, Dimmi. Professor, você está preparado para ser dono de um meio de comunicação de massa? Tecnologia e Educação: as mídias da prática docente. Wendel Freire (org.) 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
ANDRADE, Ludmila Thomé de. Que linguagem falar na formação docente de professores de língua? Teoria e práticas de letramento. Org.: Lia Scholze. Tania M. K. Rösing. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007.
FREIRE, Fernanda M. P. A palavra (re)escrita e (re)lida via internet. A leitura nos oceanos da internet. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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GALLI, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da Internet: um meio de comunicação global. Hipertextos e gêneros textuais: novas formas de construção de sentido. Luiz Antonio Marcushi, Antonio Carlos Xavier, (orgs.). 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
GIL. Glória. ABRAHÃO, Maria Helena Vieira. Educação de professores de línguas – os desafios do formador. Campinas, SP: Pontes Editores, 2008.
KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed.. 5º reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011.
MARCUSHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. Hipertextos e gêneros textuais: novas formas de construção de sentido. Luiz Antonio Marcushi, Antonio Carlos Xavier, (orgs.). 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
MENDONÇA, Márica. BRUNZEN, Clecio. (Org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
PASSARELLI, Lilian Ghiuro. Da formação inicial à formação continuada: reflexões a partir da experiência da PUCSP. Glória Gil e Maria Helena Vieira Abrahão (orgs.). Educação de professores de línguas – os desafios do formador. Campinas, SP: Pontes Editores, 2008.
PELANDRÉ, Nilcéa Lemos. Compreendendo a formação de professores numa perspectiva dialógica. Org.: Glória Gil e Maria Helena Vieira Abrahão. Educação de professores de línguas – os desafios do formador. Campinas, SP: Pontes Editores, 2008.
PRETO, Nelson De Luca. Escritos sobre educação, comunicação e cultura. Campinas, SP: Papirus, 2008.
SILVA, Marco. Os professores e o desafio comunicacional da cibercultura. Tecnologia e Educação: as mídias da prática docente. Wendel Freire (org.) 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. (coord.) Leitura no mundo virtual: alguns problemas. A leitura nos oceanos da internet. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
WILSON, Victoria. O discurso científico e a formação do professor. Org.: Glória Gil e Maria Helena Vieira Abrahão. Educação de professores de línguas – os desafios do formador. Campinas, SP: Pontes Editores, 2008.