O ensino de Língua Portuguesa - LP -
deve ser um processo dialético aberto para o mundo e voltado sempre para a
realidade social do aluno. Nesse sentido, Mendonça e Bunzen (apud KLEIMAN,
2005) afirmaram que “quanto mais à escola se aproxima das práticas sociais,
mais o aluno poderá trazer conhecimentos relevantes das práticas que já
conhece, e mais fáceis serão as adequações, adaptações e transferências que ele
virá a fazer em outras situações da vida real”.
Para possibilitar essa
abertura para o mundo, o ensino da Língua Pátria deve considerar o contexto
sociocultural envolvendo as comunidades onde o aluno interage e depois estimular
os usos frequentes da leitura e da escrita como um processo preocupado com o
mundo real atendendo, assim, às necessidades das pessoas para um mundo letrado,
aberto à contemporaneidade em que se vive.
A
importância das metodologias adequadas ao ensino de LP deve estabelecer
relações diversas entre o que é estudado e o que é ensinado, por isso,
precisamos pensar o ato de ensinar (GIL; ABRAHÃO, 2008).
O professor nesse contexto
precisa estar preparado para analisar constantemente a prática de lecionar como
um ato técnico, mas também ético e político. Desse modo, sua preocupação sobre o
currículo selecionado somente vai atingir significativamente as necessidades de
letramento do ser social e global se ele conseguir efetivar a discussão aberta
para o mundo, consequentemente, interrelacionando alunos, professores e a
sociedade com suas múltiplas formas de expressão, entre elas, a internet, que
juntos devem ser canalizados para fazer o currículo escolar como um instrumento
existencial da pessoa e não apenas um formalismo da sala de aula da escola.
Andrade
(2007. p.128) afirmou, nesse sentido, que “a formação docente constitui-se
essencialmente na transmissão de conhecimentos científicos, e é preciso que tal
transmissão, para que seja efetiva, não seja uma via de mão única, mas seja
permeada pela voz docente, que dá a medida da recepção dos conhecimentos”.
Idealmente, o professor
não pode somente ser uma caixa fechada contendo conhecimentos de livros e de
teorias que ele conhece no contato com a Universidade, e que não passam adiante
para o mundo do jovem e da criança. Por isso, o professor também precisa ter
conhecimentos práticos, uma boa formação no sentido de saber fazer estratégias;
ter habilidades.
Sem dúvida, o saber
fazer vai estar acompanhado com a prática relacionada a uma teoria adquirida
através da relação entre letramento e domínio da escrita acadêmica. Mas na
realidade escolar, as habilidades tem aparecido menos; enquanto as capacidades
teóricas do professor têm aumentado substancialmente com o ingresso na
Universidade e com a realização de cursos de atualização.
Percebemos facilmente as
dificuldades que os professores possuem em lidar com a língua escrita na sua
diversidade social, e consequentemente com os objetos da cultura erudita e
popular. Essa dificuldade é prejudicial para o aluno, pois além de ser uma
forma desagradável de conhecer a língua, não confere ao aluno nem capacidade
nem habilidade para coexistir e conviver com a realidade como ela é:
heterogênea, complexa, onde a linguagem cotidiana absorve níveis variados de
expressão.
Segundo Wilson (2008)
“para muitos estudantes de Letras, dominar a variante culta da língua é um dos
primeiros desafios a serem superados”. Com base na fala desse autor nota-se a
acomodação dos docentes de LP em focar a utilização “pura, ou correta” da
linguagem, buscando ter capacidade, erudição, assim reforçando o uso da língua
formal como dominante no dia a dia deixando de fora outras formas da língua considerada
como “errada”.
As
habilidades do como fazer a prática docente da Língua Portuguesa exige o
intercâmbio com os conhecimentos e o uso de tecnologias da informação mais
atraentes, efetivas, e reais do cotidiano. Como bem observou Almeida (2006 p.
49), o raciocínio, o cálculo, a escrita, o arquivo, o registro, a linguagem
rigorosa da ciência, a criatividade, o raciocínio espacial, são todas
habilidades e técnicas colocadas em questão e que nos remetem diretamente à
interdisciplinaridade.
Mas como se relaciona a
interdisciplinaridade com a informática?
Silva
(2011), por exemplo, fornece-nos uma explicação para o questionamento acima.
Fala sobre a emergência da cibercultura constituída por novas práticas
comunicacionais, como por exemplo: e-mails, chats, listas, weblogs, jornalismo
online, webcams etc. Assim entende-se a grande necessidade do professor de LP
se fortalecer na prática pedagógica através das TIC’s e da
interdisciplinaridade.
Na
relação da linguagem com a tecnologia da informação segundo Amora (2011) “é
necessário que o receptor tenha conhecimento da língua para decifrar as
mensagens que são enviadas pelos meios tecnológicos”. Assim o professor não
pode apenas oferecer aos alunos o conhecimento para decifrar os códigos da
língua portuguesa, mas oportunizar condições de que o mesmo interaja de forma
significativa com esses tipos de textos variáveis.
A
leitura na Internet precisa ser direcionada pelo professor de LP aos alunos de
forma ampla cujo objetivo é melhorar o processo de aquisição de conhecimento no
mundo letrado do virtual ao real e do real ao virtual onde o acesso à
informação e a produção do saber transformam-se, afinal, em competências
capazes de possibilitar práticas de leituras contínuas entendidas como
atividades estruturantes do conhecimento e da cultura.
De acordo com Silva
(2008 p.14) “espera-se que todos os indivíduos sejam devidamente preparados
para a compreensão e o manejo de todas as linguagens que servem para dinamizar
ou fazer circular a cultura”.
Cada vez mais, tem-se
observado no contexto escolar o uso frequente da internet e informática sob uma
abordagem educacional como recurso pedagógico importante. Mas atenta-se para o
fato de que a tecnologia não resolveu todos os problemas educacionais
especialmente os voltados para a capacidade de leitura e escrita; e de alguma
forma trouxe ao debate novas questões de (re)ver a relevância do letramento viciado
pelo tecnicismo.
“Do ponto de vista
textual, o tecnicismo tem um interesse especial no que diz respeito ao modo de
se estruturar um texto e de nele navegar ou, em termos mais técnicos, em
relação a sua coerência e coesão” (Freire, 2008 apud Koch, 1998).
Então, percebe-se no
uso constante da internet influências nas formas de leitura e produção textual
voltada para a rede mundial como, por exemplo: chats, messenger, e-mails, mais
atualmente What’s up, que agora devem ser vistos não apenas como peças de
comunicação mas como símbolos de poder de comunicação e de manifestação da
presença do ser humano no mundo.
Por
outro lado, o professor precisa se libertar do tecnicismo e buscar ajuda no
extremo da Humanismo, e assim alcançar uma terceira via, por exemplo,
construcionista onde o professor passa a ser um mediador e incentivador da
língua portuguesa como porta de entrada para a cidadania.
Ou seja, não se pode
negar a importância do ensino técnica da língua, porém, essa técnica deve estar
a serviço do poder de comunicação. Isso precisa ser enfatizado pelo professor
ao aluno, ou seja, quem sabe mais a língua portuguesa, tem mais poder de
competição, mais poder de compreensão, mais poder de adaptação ao mundo.
A inserção da web na
efetivação de parte do currículo está sendo vista de modo a contemplar os demais
conteúdos ministrados. Nessa direção, podem os professores e alunos on line comportar-se e agir de forma
construtiva. A escola através do processo ensino-aprendizagem dentro da
disciplina de LP contribui nessa perspectiva de trabalho para desenvolver
leitores e escritores ativos e inseridos no mundo onde as palavras se fazem
presente o tempo todo.
Nesse ponto, Almeida
(2008) faz-nos uma pergunta: “como as pessoas leem na web?” A resposta dada
pelo autor é que as pessoas simplesmente não leem por razões de estarem em
frente a um mundo de informações, e estão desconfortáveis por estarem em frente
a uma tela.
Nesse
caso, a realidade mostra a ação mecânica do professor tecnicista e ortodoxo não
traz um avanço existencialista para o jovem no século XXI. Segundo Galli (2010
p. 148) a internet tem se tornado um dos meios de difusão de mensagens mais
acessíveis e, desse modo, sua linguagem também se propagou e se tornou
globalizada. Por isso, considera-se hoje essencial o uso da internet no campo
educacional especialmente no ensino da LP, pois o uso da língua de forma
dinâmica se faz presente em todas as esferas sociais.
Ainda segundo Marcushi
(2010) “todos os gêneros textuais eletrônicos provocam polêmicas quanto à
natureza e proporção de seu impacto na linguagem e na vida social”. Percebe-se
mediante a exposição desse autor a grande necessidade do professor deixar a
ação mecânica ou tecnicista da língua e da máquina, e abrir-se para a cultura
digital e tecnológica, assim, abandonar técnicas gramaticais e conceitos
fechados para o mundo, pois os ambientes virtuais que se fazem presente na vida
desses profissionais e dos discentes são extremamente versáteis, comunicativos,
abertos.
Falta
em tudo isso uma discussão existencialista profunda sobre a prática do
professor, pois ele geralmente está “ausente” do grande mundo. Segundo Pelandré
(2008 p. 244) “professores dizem pelos seus discursos entender as propostas
para o ensino de língua portuguesa, baseado na concepção sociocultural e
enunciativa da linguagem”.
Vários autores
consideram, nessa perspectiva existencialista, que é possível ligar o real ao
ideal e vice-versa no ensino de LP relacionado ao uso da rede mundial,
observando as seguintes questões estratégicas:
Transformação
Cultural. É preciso estabelecer mudanças de atitudes
relacionadas ao uso das tecnologias da comunicação e da informação voltadas
para o processo ensino-aprendizagem. Os alunos podem e devem adquirir uma
consciência de como utilizar todos os recursos tecnológicos voltados para a
aquisição da produção de leitura e escrita assim fazendo parte do mundo letrado
para contribuir de forma significativa na expansão da cultura. O trabalho
intelectual passa a adquirir outros contornos, e a escola passa a ser obrigada
a assumir outro papel. Já não pode ser repassadora física de informações, por
uma razão muito simples: essas informações já estão disponíveis nos meios
eletrônicos de comunicação e são passados de forma até mais eficiente. Cabe à
escola, nesse novo contexto, trabalhar outros elementos, “sobretudo a ética de
acesso a essas informações, o seu significado político, a sua importância
existencialista para o progresso da humanidade” (ver, por exemplo, PRETO, 2008,
p.142).
Conhecimento
voltado para “saber” utilizar, ou seja, desenvolver habilidades.
O professor precisa estar constantemente lendo, refletindo, analisando sobre
sua prática pedagógica, buscando meios, recursos para adaptar-se as mudanças
sobre as novas formas de ensino envolvidas na relação do ensino com a internet,
por exemplo, vídeos aulas, chats, sites, jogos, redes sociais dentre outras. De
acordo com Freire (2011, p. 52) “o conhecimento exige reflexão (tempo e
maturação) e seleção (critério, crítica)”. Com isso, percebe-se a necessidade
real do professor em “saber fazer” a sua prática pedagógica voltada para o
papel social ideal da escola.
Baseado nos autores citados,
percebe-se que no debate da formação do professor aparecem os seguintes pontos
críticos:
Necessidade.
O
professor precisa saber interpretar símbolos, significados, até mesmo as metodologias
para compreender e entender o significado. “O sentindo de um texto não existe a
priori, mas é construído na interação sujeitos-texto e para a produção de
sentido, necessário se faz levar em conta o contexto” (KOCH, 2011, p. 57).
Significa considerar então o contexto no processo de leitura e a produção de
sentido como algo muito importante para que o professor de LP entenda e
interprete o seu fazer e atinja seus objetivos pautados em uma educação voltada
para a inserção dos alunos no mundo letrado sendo ele virtual e real.
Possibilidades.
Pensar
nas possibilidades de melhoria significa a esperança de mudanças que são possíveis
através de debates, estudos, pesquisas para compreensão dos diferentes modos de
utilização da linguagem. Por exemplo, Amaral (2008, p. 45) afirma “é necessário
refletir sobre como “isso” está ocorrendo; quais os critérios que orientam a
aquisição dessas novas linguagens, além de verificar a construção de novas
redes semânticas entre conteúdos e significados disponibilizados”.
Realidade. Autores como Passarelli (2008, p.221) afirmam
que “é preciso conceber a linguagem não só como forma de interação, mas como
processo interacional entre os sujeitos que utilizam a língua em suas
variedades para se comunicar, para exteriorizar pensamentos, informações, e,
para realizar ações com o outro, sobre o outro”. Portanto pensar a realidade,
analisá-la e interpretá-la são importantes pela necessidade de se entender como
ocorrem as diversas formas de interação entre os usuários da LP e as ações que
um exerce sobre outro e assim, depois, pensarmos como a rede mundial de
internet tem influenciada a exteriorização dos pensamentos em seus diversos
tipos.
Idealidade.
Qual a forma ideal para o professor de LP ministrar as aulas e contribuir aos
alunos condições básicas de aproveitamento no campo da leitura e escrita? Como
deve ser o comportamento e as tomadas de atitudes desses frente ao grande
número de informações, de textos de gêneros diversos em situações reais na vida
e no campo virtual pelo acesso a rede mundial de computadores?
Alternatividade.
Acredita-se que há inúmeras alternativas para buscar melhorias no ensino de LP.
Por exemplo: Formação Adequada, Identidade Profissional, Relação com as TIC’s,
Comunicação e Socialização, Autoridade em Sala de Aula, Visão Pedagógica, etc.
No que se refere à Formação percebe-se a grande necessidade do professor
ingressante ser capaz de articular conhecimentos de interface com a educação, fazer
ações de inclusão e de valorização da diversidade e singularidade, elaborar planejamento
orientado a processos de construção do conhecimento, metodologias e recursos
pertinentes aos objetivos do trabalho pedagógico e aplicar procedimentos
avaliativos que reorientem a prática educacional. Nesse conjunto a construção
da identidade profissional contribuirá para a versatilidade e capacidade da
realização de um trabalho competente.
Concluindo,
queremos dizer que a relação com as TIC’s é um fator essencial no ensino de LP
voltada para as redes sociais, e uso dos recursos tecnológicos a serviço de uma
ampliação da comunicação, socialização e educação. Tudo isso trabalhado com a
“Autoridade em Sala de Aula” pode avançar a cada etapa através de competências
acadêmicas na construção do conhecimento oferecendo e inserindo o aluno dentro
da sociedade tomada pela informação e o mesmo fazendo emprego constante e ativo
das diversas formas de linguagens, onde capacidade e habilidade precisam estar
integradas.
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